[Entrevista] A entrevista completa de Celine Dion para a revista ELLE
ELLE: O seu novo álbum, Encore Un Soir, será lançado no final do mês. Depois de um começo de ano tão díficil, como está a ser o regresso à canção francesa?
Celine Dion: Antes de o meu marido atravessar a ponte – eu utilizo esta expressão porque não quero pensar que ele não está cá mais – ele lançou vários projetos para mim: o meu regresso a Las Vegas, os meus concertos em Paris, este álbum em francês, tudo sabendo que já não estaria cá para os ver realizar. Para o construir eu tive longas conversas telefónicas com Francis Cabrel, Grand Corps Malade e outros autores com os quais falei de coisas graves, mas também da chuva, do bom tempo, dos meus filhos… eu não queria que me escrevessem um disco onde se chora do início ao fim.
ELLE: Parece que o René gostava muito da canção “Encore Un Soir”, escrita por Jean-Jacques Goldman.
Céline Dion: Ele adorava. “O Jean-Jacques preparou-me uma boa partida” dizia ele, ele que sofria tanto há três anos. Muitas vezes o Jean-Jacques me repetia: “Eu já te escrevi tudo”. Mas eu desejava mesmo assim que ele me escrevesse uma canção sobre este momento difícil que nós vivemos. Uma canção importante, mas não triste, que nos ajudasse a enfrentar o problema. Por isso estou-lhe infinitamente grata.
ELLE: O single “Encore Un Soir” no topo das vendas, Bercy esgotado… Fica admirada por esta paixão fenomenal e duradoura em França?
Celine Dion: Surpresa, não. Comovida, sim. Porque a relação que eu tenho com a França ultrapassa largamente as minhas canções. Aqui gostam de mim para além da música, para além do que dou em palco. Adotaram-me. Que posso pedir mais?
ELLE: Depois da partida de René,que geria a sua carreira, sente que tem agora novas responsabilidades?
Celine Dion: Embora sempre me tenham pedido opinião e sempre me tenham incluído em todas as decisões, o René tinha o controlo da minha carreira. Quando propunha muitas coisas ao mesmo tempo os seus olhos pareciam dizer “calma”. Com o meu novo gerente, Aldo Giampaolo, escolhido por René, as coisas são diferentes. Ele faz tudo para que a roda, em alturas em que está a abrandar, continue a girar, mas acho que ele precisa de ouvir mais a minha opinião.
ELLE: É exaltante para si expressar-se mais?
Celine Dion: Eu amo isso, sim. Eu faço saber ao Aldo todas as minhas ideias, as mais sérias e as mais banais. E depois, com a experiência, eu não tenho mais nada a provar: nem à minha família, nem ao meu marido, nem à industria musical… nem a mim mesma. Eu exerço a minha profissão apenas por prazer e isso apaixona-me ainda mais.
ELLE: Você disse que o René seria o único homem da sua vida. Apaixonar-se novamente, seria possível? Você pensa nisso?
Celine Dion: Eu penso que o meu marido ainda faz parte de mim, que ele quer a minha felicidade. Por isso, ter um outro homem na minha vida daqui a 5, 10 anos, não penso nisso nem um segundo. Homens por enquanto, tenho três em casa.
ELLE: O seu filho mais velho, René-Charles, tem o papel do homem da casa?
Celine Dion: Isso é algo que eu particularmente não quero. No entanto ele é um pouco o farol da família. Ele aproximou-se dos seus irmãos mais novos sem eu lhe pedir. Ele aproximou-se de mim também. Estou orgulhosa dele. Orgulhosa também de mim, de o ter preservado. Ele é um bom aluno, pratica muitos desportos, faz amigos que acolho em minha casa: adoro saber quem são os seus amigos, de os ouvir falar juntos, entrar um pouco na sua intimidade.
ELLE: Ele é rebelde como muitos adolescentes?
Celine Dion: Ele não tem nada em casa que me choque. Aos 15 anos e meio, como todos os rapazes da sua idade, ele não pára em casa. “O.K.! Olá, vou sair” diz-me ele quando sai. Eu respondo: “Hop, hop, hop, dá-me um beijo!”. Às vezes agarro-o um pouco para admirar-mos juntos o pôr do sol. Obviamente ele não me liga nenhuma. Mas não importa. Eu quero que os meus filhos olhem à sua volta, é assim que avançamos na vida.
ELLE: Com os seus três filhos, a turnê, o novo álbum, os shows em Las Vegas, você está muito ocupada. Como se organiza?
Celine Dion: Quando se trata de escolher a minha equipa, sou muito exigente. Tenho a minha irmã Linda, madrinha dos meus filhos, que é como uma segunda mãe. Tenho também à minha volta outras duas pessoas de confiança que se ocupam dos gémeos porque eles não param. Colocam-nos à frente da TV e de repente um começa a dançar como Michael Jackson e outro a cantar como James Brown. E a todo o tempo fazem taekwondo. São verdadeiras Nadia Comaneci. Mas sei que enquanto estou em palco, não tenho de me inquietar por eles. Eles estão protegidos e crescem em felicidade.
ELLE: Não ter uma menina, isso deixa-a triste?
Celine Dion: Tenho de dizer que já pensei muito nisso. Mas quem sabe, talvez um dia eu vou adotar uma menina … Eu não sei o futuro. Eu gosto de pensar que a minha vida é um livro aberto que permanece cheio de páginas por escrever.
ELLE: Você começou a sua carreira de cantora aos 12 anos. Com essa idade tinha o sentimento de escolher a sua vida?
Celine Dion: Tinha um pouco a sensação de ser conduzida pelo destino. Que era impossível remar contra a corrente nesta onda implacável que me levou. Sentia-me nesse aspeto como um remoinho de água. Mas já em pequena eu adorava cantar em cima da mesa da família. Era a benjamim de uma família de catorze irmãos, o bebé da família, sempre me colocaram num pedestal.
ELLE: Nos seus começos, você não se achava bonita. Hoje em dia já gosta de si?
Celine Dion: Muito. E não digo isto por pretensão, apenas por respeito a mim mesma. Quando comecei a minha carreira em França, Vanessa Paradis fazia sucesso com “Joe le Taxi”. Ao lado dela, eu, a rapariga com problemas dentários, um pouco magra, que não usava jeans da moda, não me sentia do melhor… Mas queria que gostassem de mim também. Com o tempo, aceitei-me. O sucesso valorizou-me. Eu transformei-me, sem a ajuda da cirurgia, apenas com arranjo da dentição. Hoje, sim, sinto-me muito bem comigo mesma.
ELLE: Em 1993, você cantou “Love Can Move Mountains” na cerimóniade investidura de Bill Clinton. Se Hillary for eleita, gostaria de cantar para ela?
Celine Dion: Eu, eu gosto de cantar para toda a gente. Eu nunca gostei de me meter na politica e não segui de todo a campanha americana. Mas atenção, eu não sou mais a ingénua de serviço que ignora todo o mundo. Pouco me importa quem é eleito: eu quero que as coisas andem para a frente. Para mim, um presidente, homem ou mulher, é como uma mãe de família: ao seu filho doente durante a noite, não dizemos: “são três horas da manhã, porque é que estás a vomitar dessa maneira?” Não, nós reagimos de seguida.
ELLE: Você que habita em Las Vegas à catorze anos, não tem a impressão de viver numa Disneyland para adultos?
Celine Dion: Depende do ponto de vista. Prefiro olhar para a cidade como um pequeno diamante que, nos anos 60, brilhava mil luzes no deserto. Claro que havia já jogadores, mas também dançarinos, artistas. Frank Sinatra, Elvis viviam e cantavam lá. Vegas é também o lugar onde me coloquei em cena: o teatro Colosseum foi construído para o meu espetáculo. Na época alguns diziam: “o Titanic vai afundar de novo”, “a sua carreira está acabada”… e agora vou dar a minha 1000º data a 7 de outubro: nada mal para um naufrágio. No fundo eu gosto desta cidade onde, como em todos os lugares, se constroem escolas, igrejas, estradas, onde as pessoas trabalham e têm sonhos…
ELLE: E os seus sonhos? Ainda os tem?
Celine Dion: Muitos! Quero ver os meus filhos a ter sucesso e a serem felizes. Gostaria também de fazer cinema. Que me dirigissem, que me fizessem trabalhar. Não quero que me digam permanentemente “Tu és fantástica”. Quero me impressionar, me comover. E quero querer que, nos meus próximos anos, poderei ser uma boa atriz.
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