Entrevista para o jornal
quebequense La Presse
Março
de 2011
Diz-se
que você não estava segura da ideia de fazer um dueto
virtual com você mesma no seu novo espetáculo. Que você
pensava que isso podia dar um ar de pretensiosa?
Celine Dion:
Cantar comigo mesma,
que pesadelo! Quando falo com os espetadores sobre a Celine
A [a virtual] «eu não sei como ele faz para viver com ela»,
eu digo a mim mesma « como vou fazer para cantar com ela?»
Prefiro cantar com os outros, como com Stevie Wonder, mas há
um toque de humor no fim; para mim, foi muito importante. Os
meus fãs não ficarão chocados; eles conheçem-me o suficiente
para saber que isso não é ser pretensiosa. O que mais gosto
é a reação das pessoas: eles não sabem se é a verdadeira
Celine, ficam um pouco confundidos. Eu fico ansiosa para que
a canção acabe porque canto na sala entre os espetadores e,
no início, eles querem todos tocar-me. Não é uma fobia, mas
eu protejo-me o mais possível para não ficar doente. E
quando começamos a dar a mão a toda a gente, isso é
interminável.
É
preciso estar muito concentrada e precisa porque a outra
Celine não parará de cantar.
Celine Dion:
Sim e mais, há um
atraso entre o som dos ecrãs do palco e o que ouço nas
minhas orelhas. Preciso de me olhar de tempos a tempos para
estar sincronizada com a Celine A. Digamos que esse não é o
meu momento preferido do espetáculo, mas fico contente se
todo o mundo achar essa parte boa. É importante
desenvolvermo-nos e divertirmo-nos em palco, mas estou lá
para servir a música e agradar aos meus fãs.
Esse
truque só podia ter sido apresentado durante o último ensaio
com público antes da grande estreia. Você não acha que é
viver perigosamente?
Celine Dion:
Há tantas coisas que
nós fazemos no último minuto. Se você monta um show em três
meses, você terá algo a fazer no último minuto, mas se você
tem dois anos para o montar, também terá coisas para fazer
no último minuto.
Mégo
disse que você quase não ensaiou “Ne Me Quitte Pas” de Brel.
Celine Dion:
Nós não a ensaiámos.
A sua
interpretação é muito dramática, você joga muito com os
silêncios.
Celine Dion:
Depende da emoção do
momento. Pode mudar de noite para noite, mas a ideia é fazer
ouvir um pouco o silêncio. Você não pode precipitar esse
momento. Eu tinha medo dessa canção porque, como é em
francês, se os espetadores não compreendessem o texto, três
minutos e meio é longo.
Quando
Ken Ehrlich lhe propôs cantar essa cantar, recusou primeiro?
Celine Dion:
Tudo o que eu não
queria fazer na vida virou um sucesso. [como My Heart Will
Go On]. Por isso vou continuar.
Você
devia-a ter cantado no Stade de France em 1999, mas Mégo
decidiu retirá-la porque René lutava contra um cancro?
Celine Dion:
René queria que eu
cantasse “Ne Me Quitte Pas”. Eu disse-lhe: «você
vai-se curar, mas você vai-me matar. Você não me pode fazer
isso.»
Você
parece ter bastante prazer ao cantar “You’ll Have To Swing
It (Mr. Paganini)?”
Celine Dion:
Sim, mas eu hesitei. Eu
dizia: você quer-me fazer cantar uma canção de Ella
Fitzgerald em Las Vegas? Eu não percebi, mas cedi. Quanto
mais a canto, mais ela flui. Não a ensaiámos 50 vezes.
A ideia
de fazer uma homenagem a Michael Jackson veio de você?
Celine Dion:
Partiu da ideia do
holograma. Eu queria fazer aparecer Michael no palco e
cantar com ele. Mas de momento, para fazer esse género de
dueto virtual, é preciso que o artista venha gravar a sua
parte, como Stevie Wonder. Ora, Michael está morto. Talvez a
tecnologia o vá permitir daqui a 5 ou 10 anos.
Você
pensou que poderia não estar pronta para a estreia a 15 de
março?
Celine Dion:
No hospital e quando
cheguei a casa com os dois bebés, eu não conseguia acreditar
que tinha de montar um show. Eu tentei ensaiar a minha voz
durante a gravidez, mas o meu diafragma estava completamente
esmagado. Estava muito grávida.
Você
tem a impressão que é a única no mundo a fazer este tipo de
espetáculo?
Celine Dion:
Aei, não começe! Eu não
estou fora de perigo com esse show.
É uma
grande produção.
Celine Dion:
É o que queriamos
fazer. Da primeira vez, passámos 5 anos em Las Vegas e toda
a gente previu que iriamos falhar. Funcionou tão bem que
quizemos trazer para Las Vegas um lado chic. É prefiso
afastar a velha perceção de Las Vegas: meninas, bebidas,
drogas, casinos, jogo, bares. É possível passar um fim de
semana aqui, ir fazer compras, ver os espetáculos, comer
bem. E fazer shows que têm a classe das grandes orquestras e
belos vestidos. O chic de Hollywood de maneira moderna.
Tenho a certeza que depois deste show, muitos artistas mais
jovens, como Christina Aguilera e Michael Bublé vão querer
dar o seu espetáculo aqui.
É um
espetáculo onde há muitas surpresas.
Celine Dion:
Sim, mas penso que é um
show com texturas e cores diferentes. James Bond, Michael
Jackson, Mr. Paganini, os meus sucessos, “River Deep
Mountain High”, “Ne Me Quitte Pas”, são todos blocos com
cores diferentes. Eu corro muito neste show. Mas o que me
ajuda, é que vocalmente, nem sempre é o mesmo. Eu tenho
tempo de recuperar. É mais relaxante, mais fácil.
René
confirmou-nos que vos foi oferecido um prolongamento do
vosso contrato de três anos no Colosseum e que ia refletir.
Que pensa você?
Celine Dion:
Eu, 70 shows por ano,
não tenho problemas com isso. Não quero que você pense que
eu levanto o nariz sobre o meu ganha pão. Eu não o faço
porque preciso, mas é certo que é muito interessante. E isso
garante a segurança financeira dos nossos filhos mais tarde.
Se isso significa colocar a sua vida de família ou de casal
em perigo, não. Mas estou a fazer 70 shows, eles dão-me o
que eu quero e faço um show que amo, nos dias e nas semanas
em que René-Charles não tem escola. É o melhor dos dois
mundos.
Você
planeia os 4 ou 5 anos seguintes como o seu marido?
Celine Dion:
Eu, eu tenho menos medo
do que ele. É por causa da sua idade, acho eu. Ele
inquieta-se a todo o tempo, ele não quer perder nada e tem
medo de não estar lá. Tenho a impressão que ele vive no
momento presente. Eu, eu sou menos inquieta, sou mais nova.
Sempre tive confiança. Mas René quer assegurar o nosso
futuro, o dos seus filhos e o meu. Por isso, se ele receber
uma oferta interessante, vai-me-a propôr. Porque não? Eu
digo: veremos. Mas para ele, os “veremos”… ele tem medo de
não ver isso. René é o nosso anjo de guarda. |