CELINE DION PT

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Entrevista para a revista americana Billboard

Fevereiro de 2008

 

 

Parece surrealista considerar tudo o que você conquistou ao longo do tempo - em bem mais do que 2 terços da sua vida.

 

Celine Dion: Eu ainda consigo ver-me na mesa da cozinha com 5 anos de idade a cantar em frente à minha família ... a minha mãe a escrever a minha primeira canção ... eu a conhecer o René quando tinha 12 anos. Foi muito intimidatório viajar do meu pequeno subúrbio até Montreal para conhecer o René.

Para financiar o meu primeiro álbum o René hipotecou a sua casa, e porque era mais barato, alugámos um estúdio das 10 da noite até às 6 da manhã. Nós gravamos o meu primeiro álbum e o álbum de natal ao mesmo tempo. Eu ainda vejo isso muito claramente. E eu ainda prefiro gravar à noite. Foi como comecei a minha carreira, e agora é difícil imaginar-me a fazer as coisas de outra maneira.

 

 

A seguir a essa primeira gravação em 1981, você conquistou um bom sucesso a cantar em francês, com cerca de 12 álbuns e 16 hits até ao fim dessa década. Porquê a decisão de entrar no mundo da língua inglesa ?

 

Celine Dion: Eu venho de uma grande família e cresci a ouvir muitos artistas em inglês conhecidos em todo o mundo - os Bee Gees, Stevie Wonder, Creedence Clearwater Revival, os Beatles, Janis Joplin, os Eagles, Supertramp. Como família, nós cantávamos em francês. Está no nosso sangue e nós somos feitos disso. Mas o inglês é uma língua universal e eu sempre pensava que era divertido os meus irmãos e irmãs cantarem em inglês. Para ser capaz de atravessar as barreiras, para cantar para mais pessoas, artisticamente era mais poderoso.

 

 

Angélil insistiu que se você queria cantar em inglês teria de aprender primeiro a falar a língua. Foi esse o acordo que os dois fizeram ?

 

Celine Dion: Até quando tinha 12 ou 13 anos, eu cantava em inglês, mas nós sabíamos que para ter uma carreira internacional, eu não podia usar um tradutor. É quase enganador e certamente que não te permite expressar genuinamente. Eu não hesitei por um segundo em aprender a língua. Foi excitante capturar essa parte do mundo e ver o que ele me podia oferecer. Aprender inglês abrir-me um inteiro novo mundo, não apenas no mundo dos negócios, mas para mim pessoalmente.

 

 

Em 1990, você assinou com a Sony Records na América, com Tommy Mottola no leme, um dos homens mais poderosos no mundo da música. Você teve David Foster e Chris Neil, e outros sensacionais produtores pop no seu caminho, e deve-se ter sentido assustada e incerta.

 

Celine Dion: Era trabalho do René trazer-me as melhores pessoas. Eu sempre me senti segura e sabia que ele queria o melhor para mim. Eu não questionava a quem nós íamos ligar, qual era o plano, com quem iríamos trabalhar, que tipo de música. Eu deixava o René explicar-me, "Amanhã, nós vamos visitar estas rádios, eles vão perguntar-te sobre isto, sê gentil ao responder isto, nós entres nisto." Portanto o meu coração era livre. A única coisa que eu tinha de fazer era dar o minha melhor actuação. Aprendi por ele e nunca tive de duvidar de nada.

 

 

O seu primeiro single nos Estados Unidos, "Where Does My Heart Beat Now" foi top 5 em 1991. Mas foi "Beauty And The Beast" um ano depois que frequentemente lembrado por ligar a sua voz ao seu nome. Sentiu que você tinha chegado ?

 

Celine Dion: Foi bastante emocional. Toda a gente na gravadora estava excitada que eu actualmente tive uma carreira nesse ponto. Eles começaram uma campanha, "Lembrem-se do nome, porque nunca se esquecerão da voz". Eu não estava assustada, mas isso pôs a barra mais alto para mim. Pelo menos as pessoas começaram a pronunciar o meu nome correctamente.

 

 

E depois, junto com a popularidade vieram as inevitáveis consequência. Este foi o ponto do qual muitos críticos começaram a escrever coisas negativas, se não cruéis, sobre você. Como é que reagiu a essa imprensa ?

 

Celine Dion: Eles eram certamente mais negativos do que positivos. Honestamente, eu não ficava realmente afectada, porque o René dizia "Eles podem escrever o que eles querem, mas se nós continuarmos a esgotar os espectáculos, tu sabes que é um bom sinal." A única coisa com que me preocupava era nunca desapontar os fãs.

 

 

Em 1993, com o álbum "The Colour Of My Love" você ganhou o seu primeiro single número 1 com "The Power Of Love". Você observou a sua ascensão nos charts ? Ter um número 1 nos charts era um objectivo ?

 

Celine Dion: Bem, eu sabia o que isso representava e claro, nós sempre queremos ter números 1. Nós queremos as pessoas a amar o que nós fazemos. Eu lembro-me de ouvir da gravadora "Oh, meu Deus, nós somos número 7, ou 5, ou 3". Toda gente estava excitada e eu prestei atenção a isso e usufrui isso com eles - mas o meu trabalho não era sobre os números. Eu gravava as minhas canções o melhor que podia. O meu trabalho era feito antes dos singles serem lançados. Se eu não trabalhasse, não era como se eu pudesse fazê-lo outra vez. Portanto, os charts ... é o trabalho da gravadora. Por eles, eu queria que os seus planos  trabalhassem.

 

 

Nas anotações desse álbum, revelou ao público pela primeira que você o Angélil estavam apaixonhados, escrevendo "René, durante muitos anos eu mantive o nosso sonho especial trancado dentro do meu coração. Mas agora é demasiado forte para continuar a manter." Estavam preocupados com a reacção das pessoas ?

 

Celine Dion: Com o tempo nós percebemos que os nossos sentimentos um pelo outro eram mais fortes do que os nossos sonhos para a minha carreira. Nós amávamo-nos um ao outro. No principio não queríamos confundir as cartas, mas eventualmente, a paixão dirigiu os nossos caminhos. Nós mantivemos o segredo durante muito tempo porque não queríamos ouvir as pessoas a dizer "Oh, meus Deus, ela é tão nova e ele já foi casado duas vezes."

Mas nós decidimos, "Vamos não esconder, porque se não podemos andar de mãos dadas sob o céu e gritar ao mundo que nos amamos uma o outro - o que é a melhor coisa no mundo - então nós perdemos o barco, nós perdemo-lo todo. Não está certo, não vale a pena."

Hoje o nosso sucesso como casal é mais forte do que a sucesso dos nossos negócios. Um dia, se alguém fizer um filme sobre as nossas vidas, essa será a parte boa, e parte realmente boa.

 

 

O seu seguinte álbum em inglês, "Falling Into You" de 1996, ganhou o grammy para álbum do ano. Isso deve ter sido um grande sentimento de realização.

 

Celine Dion: Muitas das vezes no mundos dos negócios, temos o sentimento do que vai acontecer, mas nenhum de nós naquela noite tinha a ideia se tínhamos chances. Eu lembro-me quando eles disseram o meu nome, de olhar para o René, e ele estava surpreendido. Eu não via isso muitas vezes, portanto eu estava surpreendida por o ver surpreendido.

Houve muitos encontros quando estávamos a trabalhar no álbum, e eles tinham sempre lugar à volta de muitas refeições, enchidas com piada e gargalhadas.

O restaurante parecia-me sempre mais importante do que os encontros. Nós tornamo-nos íntimos com as pessoas que estavam envolvidas, eles tornaram-se numa família e preocupávamos com eles. Então quando o grammy aconteceu, eu senti-me bem porque era um triunfo partilhado. Foi uma grande noite. Uma grande surpresa. Sim, absolutamente, foi espectacular.

 

 

Depois do Millennium Concert em Montreal, você anunciou que iria fazer uma pausa, esperando começar uma família. Essas ideias eram sobre deixar a carreira ?

 

Celine Dion: Eu tinha o meu marido, o amor e a ajuda da minha família, a música e o conforto. Foi maravilhoso partilhar a minha paixão naquela última noite, mas eu sabia de certeza que não iria ser desapontada, porque eu não esperava nada. Eu posso sempre voltar para casa. No dia seguinte, o René disse-me "Tu és fantástica. Tu fizeste o teu trabalho na última noite, e agora é tempo para nós construirmos as nossas vidas." Eu já tinha isso tudo. Nunca houve dúvidas de que isso era a melhor coisa a fazer.

 

 

Vamos pular até aos 4 anos e meio de residência no Caesars Palace em Las Vegas, de 2003 até 2007. Uma das razões pelo qual o conceito foi tão apelativo para você foi que isso lhe ofereceu estabilidade, uma rotina e a oportunidade de se focar no crescimento do seu filho, René-Charles. Agora que passaram alguns meses desde a última noite, você perdeu isso ?

 

Celine Dion: A parte difícil é não ver as pessoas com quem trabalhávamos à muito tempo. O último espectáculo foi emocionante. Mas tu tens de saber quando parar. Tu não queres sair depois das coisas começarem a cair. Então nós estávamos prontos. É uma grande conquista, nós estamos muito orgulhosos disso, mas é tempo de partir para coisas maiores.

 

 

O que você tem feito entre o fim de Las Vegas e o início da turnê mundial a 15 de Fevereiro ?

 

Celine Dion: Eu estou extremamente cansada porque nós já estamos a trabalhar na nova turnê. Tem muito energia e é muito uptempo. Há mudanças rápidas de guarda roupa, há rotinas, então agora, antes de começar, quero descansar. Preciso de descansar a minha voz.

Nós estamos levando o René-Charles até à Disney World, nós vamos ver a família toda, e eu mal posso esperar para ver a minha mãe. Estas são as coisas que fazem o René, eu e a nossa família felizes. Nós levamos um dia de cada vez neste novo mundo. Ninguém sabe o que vai acontecer amanhã, então eu quero fazer de hoje o melhor dia. Isso é a minha maior alegria.

 

 

Quais são os seus objectivos para a turnê ?

 

Celine Dion: Nós nunca tentaríamos bater algo que fizemos no passado, portanto nós não estamos a tentar fazer uma turnê melhor - nós estamos a tentar fazer uma turnê com sucesso. Nós queremos um bom tempo e tentar coisas novas, coisas diferentes.

 

 

Durante muita da sua carreira, você foi publicamente rotulada com a etiqueta de "diva" - e depois quem a conhece reconhece-a despretensiosa e pelo seu sentido de humor. Isso raramente parece acontecer consigo em público.

 

Celine Dion: As pessoas pensam que eu partilho isso tudo. Talvez eu não seja tão um livro aberto como eles gostavam que eu fosse. As pessoas pensam que eu sou muito dramática. Esses que me conhecem pessoalmente diriam que eu sou divertida. Mas vamos por isto desta maneira: É ok algumas coisas continuarem intimas. Você não dá tudo a toda a gente.

 

 

O que é que você ainda não conquistou e gostaria de conquistar ?

 

Celine Dion: Representar. Alguns filmes. Eu adoraria interpretar Maria Callas num filme.

 

 

O que é que as pessoas, que conhecem tudo sobre si, ficariam surpreendidas por aprender ?

 

Celine Dion: Que eu odeio cantar tanto quanto eu gosto cantar. Eu adoro isso quando eu tenho as minhas forças interiras, a minha alegria inteira - mas eu detesto cantar quando isso me deixa longe da minha família, quando eu estou doente ou não me sinto bem e não posso dar o meu melhor vocalmente. Cantar não é apenas com as cordas vocais. É com o seu corpo inteiro, com o seu espirito. A noite em que perdi o meu pai e tive de cantar, eu digo-lhe, isso doeu.

 

 

Finalmente, 27 anos e ainda a contar, como você resumia a sua vida e carreira ?

 

Celine Dion: Estou extremamente orgulhosa pelo facto dos fãs estarem comigo nesta jornada, que eles têm confiado em mim durante muito tempo. Sabe como afortunada sou por ser capaz de cantar durante 25 anos, de ter hits, de ter uma carreira ? Neste sentido, as pessoas que ouvem a minha música receberam-me muito bem, porque eu vendi 100-e-não-sei-quantos milhões de discos.

Se terminar amanhã, eu estou bem com isso, porque olhe para o que nós temos. Sim, eu sinto-me muito orgulhosa pelo que eu consegui depois destes anos todos. Eu partilhei uma parte da minha alma - e eu ainda amo fazer isso.

 

-Fim-

 

Mas ainda: A música em francês e a música em inglês com maior significado para Celine Dion.

 

 

Em francês: "Ce N’était Qu’un Rêve" - "Escolher uma canção em francês que signifique muito para mim é muito fácil. "Ce N’était Qu’un Rêve" foi a minha primeira canção, que foi escrita pela minha mãe quando eu tinha 12 anos. Nós gravamos um demo, que o meu irmão enviou para René Angélil e isso possibilitou uma audição com ele. Esta foi a canção que começou a minha carreira, que representa o início do meu destino.

 

 

Em inglês: "Beauty And The Beast" - "Tinha-me sido pedido para cantar a música “Dreams to Dream” para o filme “An American Tail: Fievel Goes West” e eu gravei-a. Depois o René disse-me que tinha más notícias e disse-me para me sentar. Eu pensei que ele me ia dizer que não iríamos trabalhar mais juntos. Mas depois, ele apenas disse que eu não iria ser incluída no filme, que Linda Ronstadt iria cantar a canção. Isso foi duro porque eu adorava a canção, e eu disse-lhe "Eu pensei que me ias deixar". Eu esperava o pior. E depois "Beauty And The Beast" veio ter comigo algum tempo depois. Foi como um conto de fadas. Essa canção é um clássico. Quando tu gravas um clássico uma vez na vida é extremamente afortunado. Eu tenho muita sorte em ter dois, com "Beauty And The Beast" e "My Heart Will Go On".