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Entrevistas
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Entrevista para a revista
quebequense 7 Jours
Setembro
de 2010
Bom dia Celine. Obrigada por disponibilizar tempo para
falarmos. Como está você?
Celine Dion:
Vai-se andado. Todo o mundo se porta bem. É uma gravidez que
é muito diferente da primeira. Há dois pequenos bebés no meu
ventre, é muito mais pesado. É outra aventura, mas é ainda
um grande privilégio e um bom milagre transportar de novo
vida no meu ventre. Eu penso que não há nada de mais bonito
e maior do que isto. É difícil de descrever, mas... você já
teve filhos?
Eu tenho uma filha de dois anos e meio, tive-a aos 42 anos,
um pouco como você?
Celine Dion:
A sério? Eu tenho a certeza que você está realizada.
Totalmente! Mas dois filhos, é muito trabalho! Como foi o
processo que a levou a esta boa notícia?
Celine Dion:
(Neste instante, Celine interrompe a
entrevista para abraçar René-Charles que acabava de chegar
da escola. Ela fala-lhe com muita doçura: «Eu amo-te, meu
pequeno pato. A mamã está a fazer uma entrevista.») René e
eu não vivemos num sonho ou dentro de uma bolha. Nós
estávamos conscientes que não era certo que eu iria ficar
grávida, mas nós esperávamos poder carregar uma criança uma
segunda vez. Mas depois da quinta tentativa nós dissemos:
«Talvez isto não dê mais. Nós já fomos abençoados pelos
deuses da primeira vez.» Com René-Charles a fecundação in
vitro funcionou na primeira tentativa. Para nós, é um bebé
milagre. Ele deu-nos um equilíbrio extraordinário! É toda a
minha felicidade. Antes de ter René-Charles, eu dizia para
mim: «Talvez eu não possa ter bebés.» Nós ensaiámos durante
6 anos, e eu dizia que, na vida, quando você é muito
sortudo, quando você tem montes de coisas à sua volta, não
pode ter tudo. Talvez fosse isso o meu equilíbrio, o não
poder ter um filho...
Como dizemos, não devemos abusar da sorte.
Celine Dion:
Não devemos esperar isso. Mas é preciso
pensarmos em nós e dizer: «vamos levar a natureza mais além
com as ajudas que ela nos dá» Por isso tentámos a fecundação
in vitro. Mas, depois de cinco tentativas, eu
perguntava-me: «Qual será o número? Onde parará?»
Foi um momento desencorajador ?
Celine Dion:
Nunca. Eu ficava triste quando não funcionava
mas repetia logo a seguir. Retomava a minha postura muito
rapidamente. O que eu achava mais difícil, pelo contrário,
era que eu tinha um compromisso (para uma série de
espetáculos em Las Vegas) que estávamos sempre a rejeitar.
Eu vi o tempo a bater à minha porta. Não era apenas a
questão da minha idade. Mas havia os compromissos que
tínhamos tomado e que estávamos constantemente a adiar e
dizer: «não pode ser de imediato, ainda não funcionou». A
primeira tentativa parecia conclusiva, mas não funcionou. Os
jornais souberam da história e diziam: "Celine espera um
filho", mas algumas semanas mais tarde, eu não estava mais
grávida. É realmente preocupante...
Eu
não queria colocar pressão sobre mim, eu queria viver isso
como todas as mulheres: aguardar três meses e esperar pelo
melhor. Finalmente, à sexta tentativa nós dissemos: «Não há
nada de médico, nada de físico, que me faça mal.
Perguntávamo-nos se tentaríamos outra vez ou não. Foi nesse
momento que Julie Snyder me aconselhou a tentar a
aquacultura. Eu tinha muita confiança nela e não tinha nada
a perder. Eu coloquei nisso todas as minhas chances. Fiquei
em Nova Iorque quase durante dois meses, enquanto que nas
outras tentativas, eu fiz as transferências de embrião e
pegava o avião logo de seguida para vir para a Florida.
Para você, o que é que fez a diferença ?
Celine Dion:
Nós não sabemos. Será que foi 50% de
aquacultura e 50% do resto? Eu, eu não quero saber.
Funcionou, por isso bravo a aquacultura, bravo o Dr.
Rosenwaks!, bravo Nova Iorque! Quando eu parti de Nova
Iorque, eu tive a impressão de ter desinchado... Era
psicológico. Eu não queria apanhar o avião. Eu estava a
entrar em pânico. Eu repetia-me: «Acalma os nervos, tu és
uma mãe de família acima de tudo. (risos) É preciso ser
forte!» Quando cheguei a casa, na Florida, eu chorei,
dizia-me: «Eu tinha a impressão de ontem ter um pequeno
ventre, mas peguei o avião e penso que ele não está lá mais.
Eu penso que já não estou grávida.» René tentou
tranquilizar-me dizendo-me que ele tinha ligado ao médico
para me vir ver. Eu respondi-lhe: «Mesmo que ele me veja o
ventre, queres que ele me faça o quê? Ele não conseguirá
ver!» Eu queria saber! Eu não queria apenas que o médico
me viesse tranquilizar. Eu estava a entrar em pânico. Quando
o médico me disse que me queria ver, eu pensei: «Não venhas
apenas tomar um copo de água comigo. Eu quero saber se estou
grávida!!!»
Quando ele chegou a
casa com um seringa, eram 22h, eu não vos vou mentir. Ele
tirou sangue e, quando ele me disse que iria direto para o
hospital fazer as análises, eu queria dar-lhe um beijo! Eu
respondi: «Você já fez muito por mim mas não faz ideia do
quanto você está fazendo por mim agora!» Eu tinha seis
telefones na cama com René, os telemóveis, os telefones de
casa, etc. Eu tinha muitos telefones! (risos) Quando tocou,
estava fora de questão eu atender. René pegou no aparelho...
eu esperava tanto... Ele apenas disse "Sim". Quando René
disse ao médico: "Vou passar à Celine", eu sabia que era um
bom sinal, porque René começava a chorar quando a reposta
era negativa. O médico disse-me: «Você não está grávida,
você está bem grávida! Agora faça-me um favor e vá dormir.»
Foi uma aventura! Finalmente, nós esperávamos um pequeno
coração... havia dois!
Foi nessa noite que ele vos anunciou que haviam dois ou isso
demorou algum tempo ?
Celine Dion:
Mesmo em Nova
Iorque, ele viu duas pequenas manchas negras. Antes de me
dizerem que eu estava grávida, os médicos olhavam-se e
pensavam: «Meu Deus, deu certo e não foi por pouco!» O
médico disse-me: «Eu não estou preocupado por você estar
grávida. Eu estou inquieto porque você está grávida demais!»
(risos) Ficámos loucos de felicidade. René chorava. Eu não
conseguia falar. Foi uma felicidade indescritível: nós
esperávamos um, pensando que, quem sabe, isso não iria dar
certo... e agora não tínhamos um mas sim dois! Nós nem
acreditava e ainda não acreditamos.
Você está em repouso absoluto a pedido dos médicos ?
Celine Dion:
Desde há dois ou três dias que eles me disseram que não
querem que eu ande demais porque estou muito pesada. Eu
tenho falsas contracções, e eles não querem estimular demais
o útero. Eles não querem correr riscos e eu muito menos!
Seja como for, é o meu trabalho, é ser uma mãe que cuida, e
eu quero fazer isso como deve ser. Eu tenho muita ajuda com
outras coisas, não preciso correr riscos com essas coisas. É
a reta final. Eu não fico mais andando dentro de casa por
nada. Eu não vou mais nadar. Eu estou colocando todas as
chances do meu lado. Eu não estou de cama mas digamos que
tenho experimentado todos os divãs da casa! (risos)
A sua mãe vai juntar-se a você ?
Celine Dion:
A
minha mãe trabalha muito, ela não pára! Eu achava que um dia
ela iria relaxar depois de ter criado a sua grande família
mas é o contrário. Ela fez o seu trabalho de mãe e, deixou
de lado tudo o que queria fazer. Ela dizia: «Quando eles
crescerem eu vou pagar ofertas.» Ela começou a trabalhar,
faz turnês, faz tricô, costura, passeia, fala com as pessoas
mais velhas... e depois ainda vai fazer uma caminhada! A
minha mãe tem uma energia extraordinária e trabalha mais do
que nunca. Ela disse: "Eu cuidei do seu pai até ao fim
porque ele precisava verdadeiramente de mim, mas agora sou
uma mulher livre. A minha família é independente e eu posso
fazer o que quiser.» Ela desabrochou, fez amigos. Ela veio
ver-me duas vezes aqui na Florida, uma vez na minha nova
casa. Ela está ansiosa para terminar a sua turnê. Eu, quando
me dizem que vou em turnê, entro em hiperventilação!
A minha mãe, ela diz:
«Bom, amanhã vou viajar para 10 cidades, vou preparar 10
kits.» Uma vez terminada a sua tournê, ela virá ver-me. Eu
não posso ter os bebés cedo demais!
Ela não esteve lá no parto de René-Charles. É importante
para você que ela esteja presente quando nascerem os gémeos?
Celine Dion:
Eu
queria que a minha mãe estivesse aqui o tempo todo! Eu
adoro-a e temos uma relação muito bela. Ela não esteve lá
para a vinda de René-Charles, primeiramente porque eu dei à
luz três semanas antes do previsto, e segundo, porque no dia
do parto ela estava em Paris jantando com Eddy Marnay! Ela
não estava mal! Quando chegou, ela veio-o mimar à sua
vontade, mas ela teria preferido ter estado aqui desde o
começo. A natureza decidiu de outro jeito. Com os gémeos,
podemos entrar em trabalho de parto três semanas, um mês ou
mesmo dois antes da data prevista. Eu estou fazendo o
possível para impedir isso e ela tenta terminar a sua turnê
o mais depressa possível. Se no momento em que eu tiver os
bebés ela estiver no exterior, ela apanhará o comboio
seguinte. Quando ela chegar, eles ainda não estarão no
colégio.
Você falou das obrigações profissionais em 2011... De que
modo você vê o regresso ao mundo do espetáculo e a
conciliação do trabalho com a família ? Ou talvez você
prefere não pensar nisso...
Celine Dion:
Vamos pedir aos meninos para fazerem a primeira parte do
concerto! (risos) Assim eu vou ter tempo de arranjar os meus
cabelos e ir para o palco... Não, falando a sério, é certo
que será um repouso curto, especialmente depois de um parto
de gémeos. Eu não posso deixar de pensar. Eu sempre fui uma
pessoa que pensa no próximo evento, que prepara o próximo
desafio. O meu plano é simples. Neste momento eu faço a
minha função de mãe o melhor que posso, é a minha
prioridade. René-Charles tem muita sorte em ter a minha irmã
Linda, que é a sua segunda mãe, a sua madrinha e por isso
não me inquieto por René-Charles. Sobre os meus compromissos
de Las Vegas, eles foram planeados em função do seu horário
escolar. Mas eu convenci-me da ideia de que eu não posso
fazer tudo e não posso estar em todos os lugares ao mesmo
tempo e ter 6 crianças na minha saia... Enfim, a minha mãe,
ela diria o contrário: «Há muito lugar debaixo de uma grande
saia!» (risos)
Você vai amamentar os gémeos. É tudo uma aventura na qual
você embarca! Eu acho isso admirável!
Celine Dion:
Eu
vou tentar. (risos) É o meu plano A, o meu primeiro objetivo.
Mas eu pensava assim: de noite eu não posso dar 45 minutos a
cada criança. Eles acordam de duas em duas horas, é preciso
trocar a fralda, o pijama pode estar molhado e ser preciso
trocar, lavar, embalar ele... Eu não posso dizer: "Durma,
agora!" Eu adoro acariciar os bebés, eu amo que eles
adormeçam sobre mim. Eu não quero dizer «Anda logo, beba o
seu leite! Mmiam-miam! Terminou!» Eu amo a amamentação, é um
momento privilegiado mas se eu for amamentar um depois do
outro eu nunca mais vou dormir! Então vou adotar uma
técnica. De noite eu vou amamentar os dois ao mesmo tempo.
De dia eu posso ter a escolha. Quem sabe a minha irmã Linda
pode dar banho a um enquanto eu dou de mamar ao outro. Ou
ela pode brincar com o primeiro enquanto eu dou de mamar ao
segundo. Eu amo quando o meu filho coloca a mãozinha sobre o
meu seio e olha para mim: ele pára de mamar e abre um grande
sorriso. Hooooon!... não aguento! Seja como for, não posso
entrar em pânico. A melhor coisa é dar de mamar aos nossos
filhos e a pior é dar de mamar aos nossos filhos.
O que você quer dizer?
Celine Dion:
Quando tudo vai bem, quando você não tem problema com os
seus seios, ninguém entra em stress e é a melhor solução.
Mas quando o stress se instala e você não vê mais o fim do
túnel e quando você nem toma um duche há dois dias,
amamentar não é talvez o ideal. Eu não gosto que as pessoas
imponham a amamentação. Podemos dizer às mães jovens de hoje
em dia que é um privilégio, que não há nada melhor. Mas
quando a mãe está muito stressada, quando ela tem dor nos
seios, quando ela não tem ajuda, quando a sua mãe não pode
ajudar mais, quando o filho mais velho precisa de atenção, o
que se pode fazer? Você dá o biberão e o pai dá banho ao
mais velho. Em alguns momentos você precisa fazer escolhas.
Você não tem que enlouquecer com esse assunto. Você não tem
que enlouquecer com esse assunto. Quando você precisa de
ajuda, a ajuda que te devem oferecer não é cuidar do seu
filho. Deve-se fazer a sua limpeza, fazer a sua refeição e
quem sabe lavar a roupa uma ou duas vezes. Não é tomar conta
do seu filho enquanto você vai a um restaurante. Enfim, eu
vou parar de falar... (risos)
Quando começámos a entrevista você acolheu
René-Charles que voltava da escola. Você acha que ele mudou
muito desde que começou a frequentar a escola normal, com
outros meninos?
Celine Dion:
Ele é uma criança que
se adapta a todas as situações desde pequeno. É certo que
nós o levamos sempre connosco mas, mesmo assim, estou muito
orgulhosa desse menino. Ele viu muitas coisas. Ele partilhou
os seus pais muitas vezes, ele partilhou a sua mãe muitas
vezes. Eu perguntava-me como seria quando ele começasse a
escola. Ter as suas aulas em turnê, na China, com uma
professora que se sentava num sofá com ele na hora mais
conveniente, é verdadeiramente diferente, mesmo ele tendo
feito todas as suas aulas. Mas não é como ter um uniforme,
uma disciplina e estar sentado numa sala o dia inteiro. Por
isso mesmo eu antecipava esse momento com alguma inquietação
e quando ele começou a escola no ano passado foi muito
emocionante!
Ele teve que cortar o cabelo porque uma regra da escola
estipulava o tamanho do cabelo. Eu expliquei-lhe que era
como as pessoas que tinham empregos, que obrigavam a usar
uniformes. Eles têm que cortar o cabelo porque é uma regra
do trabalho. Ele tinha escolha: se ele não queria cortar o
cabelo, poderíamos mandar ele para outra escola com outras
regras. Mas ele tinha experimentado essa escola e não quis
mudar. Foi uma grande adaptação: o uniforme, acordar cedo...
Ele tinha horários de show-business, esse pequeno rapaz...
Ele esperava a sua maman, ele acordava tarde, vivíamos
juntos. Quando a escola começa, alguns dias antes, nós
deitamo-nos muito cedo e levantamo-nos muito cedo. Mas nas
férias a gente deita-se tarde e acorda tarde, comemos quando
temos fome. Eu deixo a disciplina de lado. Os horários nas
férias são muito mais flexíveis, a gente diverte-se e
esquece-se do tempo. Ele vai muito bem na escola e ele
adora.
Quando fizemos a turnê
pelo mundo as pessoas diziam-me: «Você não pode fazer uma
turnê depois de Vegas, isso não faz sentido.» Mas eu não
queria que René-Charles começasse a escola, fizesse amigos,
tivesse a sua vida e sucesso por ele mesmo («não do pai, nem
da mãe») e que no ano seguinte, a gente fosse em turnê. Eu
disse a mim mesma: «Vamos em turnê e vamos agora mesmo».
Depois então mando o meu filho para a escola, é a minha
prioridade, depois disso podemos adaptarmo-nos ao seu
horário. Ele apenas perderá 7 semanas de aulas quando eu
estiver em Las Vegas mas ele seguirá as suas aulas com a
tecnologia Skype. Isso é um compromisso.
Nessa idade eles fazem amigos, que
se tornam no centro do universo. Não podemos tirar isso
deles.
Celine Dion:
Sim, mas há outra
coisa. Eu não quero que ele diga, aos 14 anos: «É tudo ela e
o seu show-business!» Você não quer que o seu filho diga que
não fez isto ou aquilo porque a sua mãe estava no
show-business. Eu quero que ele apenas veja o lado bom: «Eu
pude viajar, porque a minha mãe está no show-business.» Mas
ele deve viver essas coisas da maneira certa, porque eu vejo
muitas crianças nos bastidores, nas emissões de televisão.
São as assistentes que os criam, as cabeleireiras as
maquilhadoras... você vê muito isso. Dizem-lhes: «A sua mãe
foi fazer um show, fique aqui.» E depois, no dia seguinte, é
outra pessoa que cuida deles. René-Charles, quando ele vai
ver um show da sua mãe, eu digo "É o seu show também". Ele
tem alguém em casa que cuida dele, que é a sua madrinha
Linda. Ele vai estar dentro da sua casa, no seu elemento,
brincando com os seus brinquedos, com as suas coisas. E se
ele me vem ver cantar será a sua escolha.
Durante todos esses anos, René-Charles esteve
sempre perto de você. Quando ele teve o seu primeiro dia de
escola, deve ter sido dolorosa a separação...
Celine Dion:
Eu chorei um pouco. É
claro que chorei um pouquinho, mas não na frente dele! Eu ia
levá-lo todas as manhãs e ia buscá-lo todas as tardes. Eu
queria ter a certeza que ele estava bem, eu preocupava-me
muito... «E se ele tiver frio?»... «Eu coloquei um casaco no
fundo da mochila dele, espero que ele se lembre...» Eu tinha
tanto medo que ele tivesse fome... sede... frio. (risos) Nós
preocupamo-nos muito com essas coisas. Mas ele vai muito bem
e eu estou muito orgulhosa dele!
O filme Céline Autour du Monde, realizado por
Stephane Laporte, e o integral do concerto Tournée Mondiale
Taking Chances: Le Spectacle foram nº1 de vendas um pouco
por todo o mundo. As pessoas viram-na de um ângulo diferente
com o documentário. Como você reagiu quando viu os DVD?
Celine Dion:
Por vezes, quando faço
entrevistas, cortam metade das respostas porque eu falo
muito. As minhas loucuras são sempre cortadas! Num filme
como esse podemos ver tudo. Eu não sou nova, eu não sou
diferente; simplesmente eles decidiram filmar mais tempo. É
um filme, não uma entrevista, as pessoas vêem-me muito mais.
O que me fascinou foi ver o olhar das pessoas sobre mim e o
meu olhar sobre as pessoas. Quando eu canto, eu não tenho
tempo de ver tudo o que se passa e vou perdendo muito. Mas
lá as câmaras estavam por todo o lado! Eu descobri coisas
extraordinárias... Eu vi como as pessoas reagiam no momento
em que acontece essa ou aquela coisa, como as pessoas
reagiam durante e depois de eu entrar em palco.
Foi comovente ver os fãs. Quando você entra em palco, você
diz boa-noite, você olha em volta, você vê os cartazes. Mas
depois, você concentra-se no seu concerto: você desce o
elevador, você dança e precisa de se organizar porque tem
luzes que vão descer sobre você e se você dá três passos
para a esquerda ninguém te vai ver porque você vai cair no
buraco...
Por isso eu vejo-os,
aos fãs, mas não tão intensamente como quando fazem zoom da
câmara no rosto de alguém. Quando eu vi esses rostos e as
reações, eu disse a mim mesma: «Meu Deus, eles são bem
intensos!» Eu estava na minha sala e via-me como artista.
Foi comovente também ver o meu filho assistindo a tudo isso.
Eu também fiquei chocada quando me vi. Eu acho que há alguma
coisa quase agressiva que sai de dentro de mim, como um
animal...
Que coisa de animal?
Celine Dion:
No palco eu virava-me
do avesso e, ao assistir a isso, eu tinha a impressão que os
meus olhos me iriam virar do avesso também. Eu quase me
assustava comigo mesma. (risos) Eu descobri-me um pouco
também, ao mesmo tempo. Mas, acima de tudo, apreciei a
intensidade do amor que existe à minha volta. Quando eu saio
do palco, eu aceno e digo «Adeus, muito obrigada» e entro no
carro. Mas há 5 ou 6 fãs que choram. Meu Deus, o impacto é
mais forte do que eu alguma vez tinha imaginado.
Francamente, isso comoveu-me muito.
Você vai
abordar o palco de forma diferente agora que tem essa visão
do que você é em palco?
Celine Dion:
Quando estamos na sala
e a gente se olha, nós perguntamo-nos: «Isso sou eu?» Mas
quando o espetáculo começa, the show must go on... Há uma
transformação que se faz, é a adrenalina, eu não a posso
controlar. A adrenalina, quando estou na minha sala, acaba
num pacote de batata frita. No palco dura uma hora e meia.
Entre as canções você pensa que se vai acalmar mas há um
olhar na sala, há uma criança, há sempre alguém que te vai
ligar, que te vai conetar. Você não pode dizer que se vai
acalmar. Você não tem tempo porque a adrenalina está tomando
conta. É essa a droga do show-business. Você fica um pouco
viciada, é por isso que amamos a profissão, é inexplicável.
Essa adrenalina é perigosa...
É preciso dizer, quando
a cortina se fecha, que vamos para casa. Temos de ser
capazes de voltar a nós mesmos. É aqui que encontramos o
equilíbrio e que somos capazes de funcionar na vida. Senão,
é muito poderoso, é uma droga tão forte que você poderia ir
logo num casino e num pequeno bar onde tenha um piano e
continuar a cantar! E isso nunca acaba, é uma loucura!
Você deveria escrever um livro sobre como criar os filhos! O
meu tem dois anos e meio, e ainda dou de mamar...
Celine Dion:
Você
é sortuda, muito sortuda.
Há pessoas que me fazem comentários, mas eu deixo-os
falar...
Celine Dion:
É
fatigante quando os outros pensam que... e dizem que... É
fatigante! Eu escreveria um livro que se chamaria Viva e
deixe viver.
Celine, obrigada pela vossa generosidade. Nós apreciámos
muito por você estar em repouso e tirar um tempo para falar
aos leitores da 7 Jours. Bom final de gravidez!
Celine Dion:
Boa
sorte com o seu menino e aproveite essa grande felicidade!
Você terá dois lindos filhos cheios de saúde?
Celine Dion:
Espero que sim. É muito gentil.
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